sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Dicas para motociclistas iniciantes: pilotagem, parte I

Fato: moto-escola no Brasil não ensina a pilotar, mas tão somente a passar nas provas do DETRAN. Isso dito, e supondo que você já esteja com sua habilitação em mãos, o que fazer?
Bem, se você é iniciante mesmo, nunca andou de moto, meu conselho é: "vá devagar". Até que você esteja mais familiarizado com a moto e seus comandos, vá adquirindo reflexos aos poucos. Nada pior do que você brigar com a moto em pleno trânsito. Saia aos sábados ou domingos em horários de pouco movimento. Em local calmo, como um estacionamento vazio, pratique manobras em baixa velocidade, slalom, oito, frenagens, etc. Pratique bastante, sinta a moto e suas reações. Quando estiver com mais firmeza e segurança, aí sim, encare o trânsito.
Vale reforçar alguns pontos: "usar freio dianteiro é perigoso". Mito. Bobagem. Freio dianteiro é o que efetivamente para a moto. Ele deve ser usado em combinação com o freio traseiro, nas proporções 60-40% ou 30-70%, dependendo das condições. Basta observar que o freio dianteiro em qualquer moto moderna é mais poderoso que o traseiro. Se duvida, faça o teste: a 40 km/h, num local tranquilo e sem movimento, marque um ponto e inicie a frenagem. Meça em passos a distância percorrida só com o freio dianteiro, só com o traseiro e com os dois. Você verá que usar só traseiro é problemático. Além de levar uma distância enorme para parar, a moto ficará instável com a traseira travando e dançando. Pratique frenagem a diferentes velocidades, inclusive frenagens de emergência. Atenção: mesmo nestas condições, faça seus treinos sempre equipado. Motos custom e scooters tendem a ter distribuição de pesos distinta das motos "normais" e assim, usa-se 50/50 nos freios, para melhor eficiência, principalmente nos scooters.
Obstáculos na pista como sujeira, buracos, tampas de bueiros, manchas de óleo ou areia são armadilhas às quais o motociclista deve estar sempre atento. Sentou na moto, parceiro, esqueça o resto. Foque no que você está fazendo, atenção ao trânsito à sua volta, ao ambiente e ao pavimento. Você deve desenvolver seus reflexos no sentido de buscar sempre alternativa para os obstáculos. Faça o teste: olhe fixamente para um buraco enquanto vai em sua direção. Você fatalmente cairá nele. Seu reflexo deverá ser buscar a alternativa no momento em que o obstáculo for detectado. Ou seja, olhe para onde você quer ir e não para o que você tem que evitar.
No tráfego, sua postura deverá ser sempre mais defensiva. Use sempre o farol aceso, mesmo durante o dia. Assuma sua posição no trânsito, ocupando o lugar que ocuparia se de carro estivesse. Corredor, só com o trânsito parado e nele trafegue em velocidade moderada. Andar o tempo todo em cima da faixa, como fazem muitos por aí, só aumenta as chances de você ficar nos pontos cegos dos veículos à sua volta, além de ter os olhos-de-gato para atrapalhar. Uma regra básica e muito útil é a seguinte: se você conseguir ver os olhos do condutor do outro veículo no(s) retrovisor(es) dele, ele também pode ver você. E sempre mantenha distância segura do veículo da frente.
Ajustes da moto devem ser feitos com ela parada. Retrovisores, ajustes no capacete e nos outros equipamentos de segurança nunca devem ser feitos em movimento, pois a moto reage a cada movimento seu. Os retrovisores devem permitir uma visão desimpedida do trânsito à sua retaguarda. Assim, micro-retrovisores de bicicleta muito usados por muita gente por aí, não servem para nada, apenas para provar que a fiscalização em nosso país é falha, senão inexistente.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dicas para motociclistas iniciantes: equipamentos

Dando continuidade ao nosso pequeno guia básico para o motociclista iniciante, nosso tópico agora é equipamento de segurança. Basta uma pequena volta por aí para ver como eles são ignorados e/ou utilizados de forma inadequada. Não digo que os equipamentos de segurança evitam acidentes - que é verdadeiro em alguns casos - mas é inegável que o número de vítimas, inclusive fatais, poderia ser muito menor se o uso de equipamentos de segurança fosse regulamentado e fiscalizado. A falta de responsabilidade e a ignorância são responsáveis pelo descaso com os equipamentos e, por consequência, com a integridade física e a vida dos motociclistas. O que é preciso para uma pilotagem segura? Capacete, jaqueta, luvas, calça e bota. Isso é o básico. Infelizmente, apenas o uso do capacete está regulamentado e, portanto, é obrigatório. Isso não quer dizer que todo mundo que roda de moto esteja cumprindo a lei ou mesmo protegendo sua própria vida. Capacetes em mau estado, com cintas desafiveladas ou frouxas, de tamanho errado...a lista é gigante. Entenda uma coisa: o capacete é a única coisa que pode proteger sua cabeça (crânio, cérebro, nariz, boca, olhos e tudo o mais que vem com ela) num acidente. Daí a importância de se escolher e utilizar bem o equipamento. Como escolher? Ora, indo a uma loja especializada e experimentando. Dicas básicas: o capacete deve ser justo. Sim, as bochechas devem ser comprimidas ligeiramente, o capacete não pode girar na cabeça. O lugar dele é preso, firme. A cinta jugular deve ser sempre justa, sem enforcar, mas justa. "Tem que caber um dedo" é mito. Explico: numa batida o corpo normalmente é ejetado com forças muito grandes. Se o capacete não estiver bem preso ele vai ser a primeira coisa a sair voando, desprotegendo assim o incauto motociclista.
O modelo mais seguro é sem sombra de dúvidas, o fechado, este:
Modelos como o aberto
também podem ser usados, mas oferecem muito menos proteção, tanto contra o vento quanto na eventualidade de um acidente. Pode ser usado na cidade, em pequenos deslocamentos, jamais na estrada.
Capacetes off-road como este
requerem o uso de óculos especiais
não sendo permitidos óculos de grau ou de sol, comuns. Você poderá até circular sem ser molestado, afinal, a fiscalização é frouxa, mas não são recomendados por não protegerem adequadamente.
Esse bicho aí em cima é o tal capacete "coquinho". Você vai ver muitos deles por aí, junto com outras variações do mesmo tema. É proibido, não é certificado pelo Inmetro e não protege coisa alguma. Fuja dele.
O modelo clássico
pode ser utilizado, desde que certificado e com óculos de proteção.
A viseira deve estar sempre fechada e à noite nada de viseira fumê. É proibido além de perigoso.
Capacetes normalmente tem vida útil de três a cinco anos. Mesmo sem quedas, o material perde sua capacidade de absorção de choque. Pequenas quedas também vão tirando essa capacidade de absorção. Agora, em caso de queda com batida forte, não tenha dúvidas, lixo com ele e compre um novo.
Cuidados com o casco e o forro também contribuem para o prolongamento da vida útil. Lave o forro com frequência (se for do tipo removível) e mantenha a viseira limpa e sem riscos. Viseira riscada e suja é um problema principalmente à noite. Abrir a viseira além de ilegal, atrapalha.
Esse é o item obrigatório por lei. Vamos à jaqueta. Bicho, jaquetinha de nylon, jeans, algodão não serve para andar de moto. Até pode proteger você do vento. E só. Jaqueta de couro só se for feita para uso motociclístico, com proteções rígidas nos ombros, cotovelos e proteção lombar. Jaquetas comuns não vão proteger adequadamente numa queda.
Os modelos modernos, de tecido sintético - normalmente poliéster 600D - são os mais indicados para o dia-a-dia. Além de mais frescos, são mais leves.
Em locais quentes, prefira as mais ventiladas. Jaquetas impermeáveis tem a desvantagem de serem mais quentes. Pessoalmente, prefiro jaquetas de verão com forro impermeável removível, que fica permanentemente no baú, caso chova. O importante é que a jaqueta tenha proteções e seja desenhada e fabricada para o fim específico de uso motociclístico. O importante lembrar aqui é, sem a jaqueta, o único couro a entrar em contato com o asfalto é o seu próprio. Capa de chuva não é substituto para jaqueta, é um acréscimo.
Luvas. Ahhh, itenzinho tão deixado de lado pela maioria. A razões são muitas. "Luvas para andar na cidade? Pra quê? Nem tá frio"...e por aí vai. Veja bem, numa queda, a primeira coisa que fazemos, por instinto, é levar as mãos à frente do corpo. Em qualquer queda. Sacou onde quero chegar? Pois é.
O ideal, evidentemente, são luvas que protejam ambos os lados das mãos. Tecidos anti-derrapantes e anti-abrasivos na palma, e proteções rígidas para dedos e juntas nas costas.
Preferência pessoal minha, para uso estritamente urbano e em dias secos, são as luvas de motocross
por serem mais flexíveis, arejadas e por terem punhos curtos, muito mais fáceis de tirar e calçar. Para viagens, prefira as mais elaboradas, com punhos longos e proteções para as costas das mãos e dedos. Há ainda modelos impermeáveis. Luvas meio-dedo são muito estilosas. E só.
Chegando lá nos pés, prefira calçados do tipo bota, pois protegem melhor dedos, peito dos pés e tornozelos. Costumo utilizar botas de montanha como estas
que, com seu cano mais alto, consegue proteger bem. Botas muito maleáveis, de nobuk ou nylon vão deixar a parte superior dos pés mais sujeita a lesões. Para o dia-a-dia, prefira as botas de cano baixo, mas práticas

e confortáveis. Para chuva e estrada, aí nada como as de cano mais alto.
Calças...bem, ninguém - nem eu - usa calças específicas na cidade, né? Não. Mas pior que isso é usar bermudas, shorts e afins. Existem marcas que fabricam jeans com proteções. Não são lá muito baratas, mas protegem melhor. Na dúvida, prefira circular sempre de calças, nunca de bermudas.  Agora, pegou estrada, se não possuir uma calça específica, consiga protetores para os joelhos e canelas, para usar sobre a calça jeans. Melhor que nada.
Finalizando, não basta ter um de cada. Dobre seu equipamento: dois capacetes (podem até ser de tipos diferentes), duas jaquetas (idem), dois pares de luvas, etc. No caso da jaqueta, enquanto você põe uma para lavar, tem outra para usar. Você pode ainda ter luvas de verão e de inverno/impermeáveis, o mesmo valendo para as botas e por aí afora.
Existem no mercado uma série de outros equipamentos que facilitam a vida do motociclista, mas aqui só tratei do equipamento básico. Posteriormente farei um post com esses outros acessórios.

Dicas para motociclistas iniciantes - a primeira moto

Tema muito frequente em comunidades na internet é o do motociclista principiante. Suas dúvidas sempre giram em torno de que modelo de moto comprar como primeira moto, além de dicas de pilotagem e de equipamentos. Não pretendo aqui escrever um guia completo - e agradeço àqueles que porventura comentarem adicionando pontos que eu eventualmente deixar de fora - mas um guia básico, no qual pretendo dar minha opinião sobre esse assunto, de extrema importância. Acredito que maus hábitos podem ser evitados desde que se aprenda a maneira correta das coisas. Vou dividir os tópicos em posts diferentes: a primeira moto equipamentos e dicas de pilotagem.
Comecemos, então, com o primeiro tópico, a motocicleta.
Existem basicamente dois tipos de iniciantes, os que já andaram de moto - incluindo os que pilotam motos de terceiros-, e os que nunca pilotaram. Os primeiros tem a tendência de começar com motos maiores "porque já sabem pilotar". Não se aplica em todos os casos, mas a regra é comece sempre por modelos menores e "suba a escada da cilindrada". A razão disso é simplesmente permitir que o motociclista desenvolva suas habilidades e as aperfeiçoe sempre. É como um jogo de corridas, no qual o jogador começa com um carro simples e, à medida em que ele avança no jogo, vai podendo pilotar carros mais potentes. Exatamente a mesma coisa. Começar com uma 600 como muita gente deseja não é recomendado por várias razões: potência e peso, por exemplo. Pior ainda, há vários modelos de 600, as mais pacatas e as "venenosas". Começar com uma venenosa pode ter consequências funestas, pois sem os reflexos adequados o motociclista iniciante terá muita dificuldade em apreciar plenamente seu veículo. Não à toa, em países como o Japão, o motociclista é obrigado a começar com motos menos potentes. Ele fica em cada categoria cerca de dois anos, até poder passar para a categoria superior de habilitação, modelo que precisa ser implantado no Brasil com urgência.
Então, o ideal, principalmente para o motociclista iniciante, é começar por baixo, lá nas 125/150cc. Sou da opinião que scooters - não motonetas - não são exatamente o ideal para o iniciante.
A Honda Bizz é um exemplo de motoneta
O Suzuki Burgman é um representante da classe dos scooters
As rodas pequenas geram pouco efeito giroscópico e por isso são menos estáveis e muito mais sensíveis aos desníveis e crateras de nossas...ruas. Caso o iniciante transite por ruas de boa qualidade, aí então é diferente. Fiz exceção às motonetas pois elas em geral são equipadas com rodas de pelo menos 16", mais seguras que as de 10/12" dos scooters. Daí temos que, passado um tempo com a 125/150, digamos, um ano, o motociclista já se sentirá seguro para dar o passo seguinte. Isso, evidentemente dependerá de quanto ele utiliza a moto, se no dia-a-dia, ou somente em fins-de-semana. Quanto mais frequente o uso, mais rapidamente ele adquirirá a experiência necessária.
Aos que "já sabem pilotar", meu recado: nunca se sabe tudo. Sempre há espaço para aprendizado. Meu exemplo: aprendi a pilotar aos 11/12 anos de idade. Pilotei até quase 24/25. Passei mais de 15 anos sem subir numa moto. Nesse tempo nunca deixei de ler a respeito, é bom notar. Mas, ao retornar ao mundo das duas rodas, comecei por baixo. Ou quase, pois optei por uma 250cc e passei quase dois anos com ela. Foi possível, assim, reavaliar meus reflexos e habilidades e, quando passei para a 600cc, a transição foi a mais tranquila possível.
Honda Bros pertence à categoria das trails ou on/off
Outro ponto a ser considerado na escolha da primeira moto é o uso que se pretende dar a ela. Deslocamentos diários na cidade, para a escola ou trabalho, pequenos passeios de fim-de-semana, trechos de má qualidade ou estradas de terra, tudo isso influencia na escolha. De nada vai adiantar querer uma customzinha se houver deslocamentos em trechos de péssima qualidade ou estradas de terra. Querer uma 125 para cair na estrada requer, da mesma forma, muita atenção. O biotipo do piloto também influencia. Pilotos mais altos vão se sentir mais à vontade em motos trail. Disponibilidade de peças e assistência técnica próximo do local de residência é outro fator a ser considerado, bem como o índice de roubos.
Enfim, escolher cuidadosamente a moto vai contribuir para um melhor aproveitamento do veículo e uma melhor adaptação/aprendizado.
O mais importante: tire sua habilitação antes de qualquer coisa.