terça-feira, 23 de outubro de 2018

Erros que cometemos

Eu comentei no passado, no Peripatetices, sobre a viagem que fiz em 2012, de XJ6n. Naquela ocasião eu acreditava piamente que minha viagem estava super-planejada, que nada daria errado, seria tudo lindo, maravilhoso.
Bem não foi exatamente uma tragédia, não. Mas coisas deram errado.
Pequeno resumo: decidi ir para Rio das Ostras/RJ, de moto e sozinho, para o festival de jazz que acontece naquela cidade. Cerca de 1330 quilômetros de distância e um feriado prolongado. Comecei pelo equipamento. Já tinha jaqueta, calça, botas, luvas e capacete. Comprei alforges da Givi que vieram com capa de chuva removível. Já tinha bolsa de tanque também. A moto estava preparada, revisada e os planos todos em ordem. Sabia a hora de sair e a hora programada para chegar, fiz reservas em hoteis. Sabia que não queria de jeito nenhum passar pelo Rio de Janeiro, nem nas suas rebarbas. Sozinho, sem GPS e com moto grande eu seria alvo fácil caso errasse uma saída. Resolvi que iria pela serra, por Teresópolis, desceria por Magé e dali para Rio das Ostras um pulinho.
O que deu certo? Bem, a moto mostrou-se excelente na estrada; meu equipamento (à exceção das luvas "impermeáveis"), não fez água; o festival de jazz foi bacana; e a volta foi tranquila.
O que deu errado? Vamos lá.
Meu planejamento não levou exatamente em consideração o fato de que imprevistos acontecem. Pensei em chuva, pensei em trânsito, mas não pesei a distância. Deixei quase 800 quilômetros para fazer no segundo dia, em estradas de serra e áreas desconhecidas. E em vésperas de feriado prolongado...
Pois é, feriado prolongado. Só me dei conta disso para valer quando passei por Magé em direção à BR101. Lá me deparei com o monstruoso trânsito do feriado em direção à Região dos Lagos. Mas estava de moto e negociei rapidamente aquela lambança e me lancei em direção a Rio das Ostras. Mas perdi tempo pra caramba aqui e o cansaço cobrou seu preço mais tarde.
A chuva. Quando acordei no segundo dia e descobri que estava chovendo, permiti que meu ânimo caísse uns pontinhos. Nunca deixe que isso aconteça. Peguei trânsito monstro em BH, debaixo d´água e piorou depois, com a lama de minério na região de Barbacena. Fiz duas paradas neste trecho e numa delas notei que a água tinha entrado pelas capas dos alforges. Os alforges tinham um par de elásticos que teriam a função de mantê-los firmes junto da moto. Só que, com eles no lugar, a capa de chuva não "vestia" direito. E aqui a minha falta de atenção causou a entrada de água. Achei que os elásticos tinham que ficar no lugar e vesti as capas da melhor forma possível, não levando em conta a abertura que ficou do lado de dentro, exposta à água jogada pela roda traseira.  Deixei o desânimo tomar conta neste trecho e acabei perdendo muito tempo tentando tomar uma decisão. Decidi tocar e acabei chegando muito tarde e cansado a Rio das Ostras. A decisão certa teria sido assumir os erros, calcular bem o trecho que ainda restava e dormir por ali. Bastava ligar para a pousada e pedir para segurarem a reserva. Iria perder o primeiro dia do festival mas este era mais uma desculpa mesmo para viajar de moto. Eu teria seguido no dia seguinte, com tempo melhor, menos trânsito e chegaria antes do almoço com tranquilidade. 
Acho que o principal erro que cometi aqui foi o psicológico, o de me deixar abater, ainda que por pouco tempo. Como não conversei com nenhum amigo experiente antes, acabei acreditando que daria conta da distância. E ela não teria sido tão problemática se eu tivesse escolhido descer via Rio de Janeiro pela BR 040 e de lá pegar a 101. Mas como queria evitar a região metropolitana, achei melhor pegar a rodovia de serra, por Teresópolis. Foi bom e foi ruim. Uma melhor rota seria utilizada na volta, indo por Nova Friburgo.
Outro erro cometido foi não fazer paradas mais frequentes, o que eu tinha planejado. No decorrer da viagem, com os imprevistos, acabei por tocar e tocar e as paradas foram infrequentes. Nem fotos tirei. Logo eu, que fotografo tudo. Isso ficou mais aparente na volta. Toquei direto de Rio das Ostras até sair na BR040. Mais de 4 horas pilotando. E parei pouco no resto do dia pois percebi que tinha perdido tempo na serra e o tempo estava bom, apesar de que ventava muito. Toquei o pau e quando estava a 70 quilômetros de Caetanópolis o cansaço era quase insuportável. Parar para descansar não significa perder tempo na viagem, mas poupar seu corpo para passar mais horas pilotando. E nem precisa ficar muito tempo parado. Dez minutinhos já são suficientes. Coma um chocolate ou barrinha de cereal se não tiver outra coisa. Hidrate-se e estique os músculos. Revise o equipamento e reabasteça. Essas paradas estratégicas fazem maravilhas por você.
Outro erro foi com a bagagem. Não a escolha do alforge, mas do que levar. Como era comecinho de inverno, temi passar frio e acabei levando roupa demais. Desnecessário. De mais a mais, se faltar algo você sempre pode adquirir alguma coisa, a não ser que esteja no meio do nada, o que não seria meu caso. Com isso as malas ficaram pesadas e não se ajustavam direito na moto. No fim do primeiro dia, decidi reorganizar tudo e as coisas melhoraram um pouco. Naquela viagem eu ainda não tinha baú e o danado fez uma falta doida.
Finalmente, forma física. Andar de moto exige muito do físico, crianças. Então, faça exercícios, alimente-se direito durante a viagem e durma bem. Conheço gente que acha lindo dizer que fez 900 quilômetros num dia e que só parou pra abastecer. Só que você se desgasta e se desidrata de forma acelerada nessas condições e daí para desmaiar em cima da moto é um pulo. Não seja idiota.
Planeje, planeje, planeje. Mas deixe espaço para o inesperado.
Viaje sempre, viaje seguro.



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Leis x civilidade

Ao me dirigir para o trabalho esta manhã, presenciei uma cena que se repete todos os dias. Há um retorno na avenida L2, com um semáforo. Quando não há trânsito, os carros que usam o retorno não esperam o sinal abrir, seguem como se nada estivesse acontecendo. Brasília tem câmeras, muitas câmeras, mas não naquele ponto. Aquele retorno permite acesso a uma importante área central e é muito utilizado. Não é o único lugar em que esse tipo de coisa acontece, obviamente, mas é sintomático do que vemos país afora. Apesar das reclamações de "indústria da multa" que muitos motoristas adoram fazer, no nosso país, cujo senso de civilidade anda tão combalido - senão moribundo - multar motoristas desobedientes parece ser a única saída.
Fico profundamente irritado quando converso com pessoas que estiveram recentemente em países como Canadá, Estados Unidos ou qualquer outro país da Europa, e são só elogios à organização do trânsito, à educação dos motoristas e aí seguem numa ladainha sobre como o brasileiro é mal-educado, como nosso país não tem jeito mesmo. São as mesmas pessoas que fazem manobras no trânsito sem sinalizar, que estacionam em local proibido com a desculpa de "é rapidinho", que furam o sinal vermelho porque "não vem carro mesmo".
É absurdo que o óbvio tenha que ser escancarado: as leis existem, você é que não as cumpre. Cinto de segurança foi tornado obrigatório por razões de segurança, mas só pegou quando multas começaram a ser aplicadas. Uso do capacete por motociclistas, mesma coisa. Uso de cadeirinha para crianças, idem (apesar que ainda vejo muuuuita gente andando com crianças soltas no carro, o que para mim é criminoso). Cinto de segurança para o passageiro? Respeito à capacidade de passageiros?
O brasileiro parece não ter noção de que trânsito organizado e respeito às leis diz mais a respeito dos próprios motoristas do que das autoridades responsáveis pelo trânsito. É uma questão de civilidade: respeito às leis. Na Europa não é preciso ficar avisando que o desrespeito a uma nova lei acarretará multa. O cidadão já sabe disso. Há muita discussão antes da aprovação de uma nova e mais abrangente regra, por isso, quando ela é implantada, parte-se do princípio que o cidadão já está a par dela e cabe a ele cumpri-la. Simples assim. 
Enquanto não for instalada uma câmera naquele retorno, para desespero dos apressadinhos, a irregularidade continuará a acontecer.
Certos desrespeitos são questão de mau aprendizado mesmo: ligar a seta somente no momento da manobra, por exemplo. Muito comum no Brasil, muito motoristas acreditam que é para constar, para, no caso de uma batida, ele poder dizer que ligou a seta. Antecipar-se no trânsito evita dissabores. O pisca serve para avisar a outros motoristas de suas intenções. Mesmo que seja uma simples mudança de faixa. Muitos carros hoje tem essa função na alavanca do pisca. Basta encostar que o pisca é acionado 3 ou 4 vezes, e serve para mudanças de faixa. Mas tem que ser utilizado ANTES que o motorista inicie a manobra.  
Ultrapassagens pela direita. Enquanto pensava nisso de manhã, imaginei se a proibição dessa manobra não seria um resquício dos tempos em que a maioria dos carros não tinham retrovisor no lado direito. A regra diz que a manobra é proibida, exceto se o carro a ser ultrapassado estiver indicando conversão à esquerda. Como ninguém faz uso correto do pisca, uma regra atrapalha a outra, percebe? É, não é fácil.
Resumindo: não adianta você ficar reclamando do DETRAN, da auto-escola, das multas, dos pardais. Se a regra existe e você tem conhecimento dela, obedeça. É assim que se faz um trânsito civilizado, com civilidade.
Dirija seguro. 

-- xx --

Para lembrar uma cantilena de uma campanha de trânsito do passado:  
"o carro é de lata
Você é de carne
 O carro amassa
Você morre"

Meio exagerado, mas dá para entender o sentido.