quarta-feira, 10 de abril de 2013

Mercado em Ebulição

Vivemos tempos interessantes no mercado motociclístico brasileiro. Contrastando com a retração generalizada que os mercados europeu e americano, principalmente, vem enfrentando, no Brasil amplia-se a gama de modelos, fábricas anunciam operações no Brasil, sinal de que, apesar de todas as loucuras e incertezas econômicas, nosso mercado pode significar uma tábua de salvação para muita gente, como o foi para a GM, por exemplo. Ora, marcas conhecidas por não produzirem fora de seus países de origem iniciaram operações por aqui. Essas operações incluem a montagem de modelos em regime CKD, coordenação de distribuição e vendas e marketing. Marcas que outrora foram representadas por grupos no país, tomaram as rédeas de suas operações, como foi o caso de Harley-Davidson, Triumph e Ducati. Em comum as três tinham o mesmo grupo representando-as e as relações não correram bem, chegando até a ter as operações interrompidas e os consumidores deixados órfãos.

Segundo números da ABRACICLO (cujos associados são a BMW, Bramont, Caloi, Dafra, Harley-Davidson, Honda, Kasinski, Kawasaki, Suzuki, Traxx, Triumph e Yamaha), de 2011 para 2012 houve um encolhimento nos números absolutos de produção e vendas da ordem de 419.000 unidades, aproximadamente (de 2.044.532 unidades vendidas em 2011 para 1.625.446 em 2012). Dentro desses números, entretanto, ocorreram pequenas alterações interessantes: aumento na participação de mercado em 0,1% para as motos até 50cc; +1,1% na fatia que compreende 51 a 150cc, + 0,1% entre 150 e 400cc; e +0,8% acima de 400cc. 
Como se vê, as fatias que mais cresceram foram 51 a 150cc, categoria em que figuram os carros-chefe das principais marcas e as motos de alta cilindrada. Esse aumento de 1,1%, numa faixa em que os modelos variam de cerca de R$ 20 a R$ 100 mil, é gigantesco e faz crescer os olhos dos fabricantes. Essa faixa de cilindrada tem acumulado crescentes perdas na Europa, onde há profusão de modelos e marcas a preços justos. 
Esse 1,1% de aumento justifica o interesse das fábricas em iniciar operações no Brasil, inclusive com abertura de linhas de montagem. O mercado automobilístico também vem experimentando situação semelhante. 
Assim, vamos dar uma olhadela no que já veio e no que está por vir, no mercado motociclístico. 
A Dafra ainda sofre com um certo preconceito por ser uma marca desconhecida que lida com marcas relativamente desconhecidas. Tem em seus showrooms belezuras como a Citycom 300i, provavelmente o melhor scooter à venda no Brasil, e a Apache 150. 
Lançou este ano duas interessantes 250cc: a Roadwin 250 e a Next 250, além de uma nova 150, a Riva. Todos os modelos tem a seu favor boa e moderna tecnologia e excelente relação custo-benefício.
Dafra Riva 150
Dafra Roadwin 250R
Dafra Next 250
Dividindo o troféu de campeã de apatia com a Yamaha, a Suzuki, única japonesa a não ser dona da própria operação no Brasil, tenta sair do imobilismo. Apesar de contar com modelos atuais e a preços justos, a Suzuki carece de uma ação mais incisiva, mais de acordo com o perfil da marca. As GS 150 lançadas no ano passado foram um interessante passo inicial. O mercado das pequenas ainda carece de opções abaixo de 125cc, muito populares, sobretudo no nordeste. O recente lançamento da GS120 pretende atender a essa parcela do mercado, que busca um veículo simples e barato. Claramente produto de uma das joint-ventures da Suzuki com fábricas chinesas, não deixa de ser um lançamento interessante, apesar de soluções estilísticas duvidosas, como o farol cromado. 
Suzuki GS120
Não é de hoje que o mercado pede uma moto mais moderna que as bravas e competentes Bandit. A Gladius 650, com seu V2 e linhas modernas e atraentes ativou as glândulas salivares dos fãs da marca no Brasil, desde o seu lançamento na Europa. Apesar do motor de produção mais cara que os de cilindros paralelos, o modelo segue a filosofia da linha XJ da Yamaha: veículos acessíveis em preço, de pilotagem descomplicada, para aqueles que querem uma moto média para o dia-a-dia. A Bandit atende a esse público, em parte, pois seu projeto, apesar de competente, está defasado frente à concorrência. 
Suzuki Gladius 650
E eis que agora a Suzuki anuncia que vai finalmente oferecer o modelo no Brasil. Especulações dão conta de que o modelo custará em torno de R$ 28 mil. Elevado, se levarmos em consideração que esse é o mesmo valor pedido por uma XJ6, de quatro cilindros e praticamente o mesmo preço pedido pela defasada Bandit, a despeito de promoções na rede autorizada.
Outra indicação interessante do ponto de vista do mercado é a possibilidade de a marca disponibilizar a Inazuma 250. Modelo básico, mas equipada com motor bicilíndrico, de visual duvidoso, na minha opinião, terá chances de abocanhar uma bela fatia do bolo, uma vez que há duas 250cc bicilíndricas em nosso mercado: a Kasinski GTR 250 e a Ninja 300. A Inazuma, assim, teria para si a grande fatia dos que buscam uma 250cc mais potente, mas não querem uma esportiva.
Suzuki Inazuma 250
A Honda velha de guerra segue impávida na liderança absoluta de mercado, aprontando coisas que só a líder absoluta de mercado pode aprontar. Algumas coisas boas, outras nem tanto. É discutível a opção pelo ressuscitamento de versões antiquadas e básicas como Biz 100 (já não basta a horrorosa Pop?) e a caríssima Falcon 400. Cara mesmo, como essa belezura aí abaixo, a CRF 250, importada da Tailândia e que vem para preencher a lacuna deixada pela Tornado. Esse é o problema: por que diabos a Honda não monta simplesmente o modelo em Manaus e dá início ao processo de nacionalização do modelo que tem tudo para dar certo, inclusive público cativo? Bem, a gracinha sai por proibitivos R$ 18 mil. Nem o moderno motor refrigerado a água, compartilhado com a esportiva CBR 250, aliás, justifica o preção. A moto é boa, bonita, mas com esse valor não vai. Ainda por cima vem com um banquinho que parece desconfortável para o garupa e sem bagageiro. É de se imaginar o que acontecerá entre ela e a Falcon. Lá embaixo na tabela vamos encontrar a XRE300, feiosa mas boa de mercado. 
Honda CRF 250L
Entre os modelos lançados no ano passado, a NC700X encontrou boa aceitação no mercado, graças a atributos como motor econômico, belo design e excelente relação custo-benefício, mesmo com o preço de perto de R$ 30 mil, meio exagerado. Tarefa menos fácil terá sua irmã maior, a VFR 1200 Crosstourer. Equipada com o mesmo motor V4 da tourer VFR 1200, a versão aventureira chega por R$ 79.900,00. Muitíssimo bem equipada, com controle de tração, ABS, transmissão por cardã, câmbio automático, balança traseira monobraço, rodas raiadas com pneus sem câmara entre outros mimos, ela tem tarefa difícil pela frente. Tem que enfrentar as recém-lançadas Kawasaki Versys 1000 (R$ 49.900,00) e seu quatro-em-linha oriundo da naked Z1000 e Yamaha Super Ténéré 1200 com seu bicilindro paralelo (R$ 60.000,00) e a grife Ténéré a lhe corroborar as credenciais. Mais do que isso, a XTourer tem que enfrentar a rainha da categoria, a onipresente e palavra máxima quando se fala em aventura, a BMW R1200GS com seu bicilindro boxer agora refrigerado a água e ar (R$ 80.900,00 para a versão Adventure) com toneladas de eletrônica embarcada, além de controle de tração, ABS, transmissão por cardã e muita capacidade de enfrentar estradas. De qualquer tipo.
Honda VFR 1200 Crosstourer
A Yamaha, segundo lugar em vendas e primeiro em letargia, limitou-se a remodelar suas motos. De lançamentos mesmo só a Fazer 250 Blueflex, com sistema Flex de verdade, diferente do sistema da Honda, que exige uma quantidade mínima de gasolina quando abastecida com etanol. Recentemente a marca dos três diapasões lançou uma "nova" versão da 125 Factor. É uma bela moto, mas insistir no carburador, ainda que eletrônico, já está deixando de fazer sentido. A Lander pede uma reestilização não é de hoje. Já falei aqui no blog que a Yamaha vem perdendo chances de ouro. Uma delas foi não ter lançado as 250cc com motor refrigerado a água. Não que o motor a ar não seja bom, muito pelo contrário, mas oferecer o motor num modelo ligeiramente mais sofisticado para depois utilizá-lo em outros modelos na linha me parece sensato. A Lander poderia se beneficiar muito dessa medida, principalmente com a CRF chegando aí. Na linha XJ poucas novidades, além das pequenas alterações efetuadas no modelo na Europa, no ano passado. Não que haja muito a ser mudado nesse modelo que é feito para ser acessível - como nossa amiga Gladius lá de cima. As mudanças, no entanto, só afetaram a naked, ficando a F apenas com novas cores (finalmente). Pena a Yamaha insistir em não oferecer o ABS, nem como opcional. 
Yamaha XJ6n
A verde de Akashi não parou quieta desde que entrou no mercado brasileiro, com um fluxo constante de lançamentos, sem ligar para a choradeira. Exemplo disso é a substituição sumária da Ninja 250 pela 300 (mais moderna e potente) e da Z750 pela lindíssima Z800. A ER6 sofreu pequenas alterações, mas nada de substancial. Esta também uma moto para quem não quer um rojão, mas acabou de sair de uma 250cc e quer algo mais manso para se acostumar.
Kawasaki Z800
Sem sombra de dúvidas a principal notícia do nosso mercado no ano passado foi o anúncio da volta da Triumph. A marca inglesa, antes representada pelo Grupo Izzo, viu suas vendas despencarem até a suspensão por completo das atividades no Brasil, deixando órfãos donos de Tigers, Bonnies, Daytonas, etc.  A Triumph não é estranha à fabricação/montagem de seus modelos fora da mãe Inglaterra. Ao assumir a operação brazuca a fábrica decidiu que montaria modelos aqui também com, suponho, olhos no processo de nacionalização. Ainda com apenas uma concessionária, na capital paulista, a fábrica pretende ampliar seus horizontes ainda em 2013 com novas lojas em Brasília, Goiânia, Curitiba e Belo Horizonte, entre outras. Os modelos já lançados chegaram com ótima relação custo-benefício e já estão dando trabalho à concorrência.
Triumph Tiger 800XC
A Tiger, mais nova integrante da família de aventureiras da marca trouxe seu tricilíndrico para rugir às portas da BMW, sua concorrente mais direta.
Triumph Rocket III
O monstrão aí é a principal garota-propaganda da marca, com o maior motor motociclístico de série em fabricação atualmente, com seus 2.300cc de 3 cilindros longitudinais e torque de caminhão. É moto para poucos. Poucos mas felizes.
Triumph Daytona 675 Triple
Esportiva de sucesso, a Daytona 675 vem dando trabalho às japonesas e européias desde seu lançamento. De lá para cá passou por modificações, reformulações e muito desenvolvimento. O mercado das esportivas é cruel e não permite defasagens em relação à concorrência.  Tem tudo para continuar a fazer sucesso.
Triumph Bonneville T100
A belezura acima é minha favorita no line-up da Triumph. Seu modelo mais icônico, faz homenagem aos recordes conseguidos pela marca na planície de sal em Utah, Estados Unidos. Clássica até o osso, faz poucas concessões. Motor bicilíndrico de 850cc com bons valores de torque e potência e preço justo de R$ 29 mil fazem dela uma séria candidata a figurinha fácil em nossas ruas. Não parece, mas a Bonnie é alimentada por injeção eletrônica. Num capricho da marca, os corpos de injeção foram desenhados para parecerem carburadores. Não tem do que não gostar.
Ducati Diavel
Direto da Itália veio a marca das esportivas por excelência, a Ferrari das motos (se bem que tem gente que acha que elas sejam as Lamborghini e as MV Agusta as Ferrari), a Ducati. Tomando conta de sua operação no Brasil, antes também a cargo do Grupo Izzo (que pelo jeito não vai deixar saudades), já está montando, em regime de CKD na unidade da Dafra em Manaus, a Diavel. O nome é mais do que apropriado para essa roadster claramente inspirada na feroz Yamaha V-Max - que a Yamaha insiste em não trazer. Baixa, com cara de má, potente e também para poucos, não deixa indiferentes pelo caminho. É moto para amar ou amar. 
Ducati Panigale 1199
R$ 117.000,00. Essa é a cifra a ser pedida para quem quiser levar uma Panigale S para casa. Haverá modelos mais em conta, mas para quem quer pilotar mesmo, a S é o céu. Eletrônica embarcada de fazer inveja a uma Ferrari, o modelo com o novo bicilindrico em L desenvolve um caminhão de potência. Exige-se porte de arma. Linda de morrer. A Ducati trará ainda as Monster 796, Multistrada 1200, Streetfighter 848 e a EVO 848 para compor sua linha brazuca.
2012 também viu a entrada no Brasil das já mencionadas Ferrari (ou Lamborghini?) motociclísticas. MV Agusta. O nome por si só dá arrepios em quem gosta e conhece motos. Marca conhecida por sua excelência mecânica e amplo sucesso nas pistas. Suas motos são obras de arte, design e função trabalhando juntos como em nenhuma outra. De qualquer ângulo que se olhe, uma MV Agusta não é um objeto ordinário. É moto para ser colocada na pista e pilotada. Mas é também moto para se colocar na sala e admirar.
MV Agusta F4

MV Agusta Brutale
Não se engane, estas motos não são para qualquer um. Mesmo a naked Brutale não é lá muito afeita a andar devagar. Podem ser um bocado desconfortáveis na cidade, por isso, se você busca algo para o dia-a-dia, compre um Chevette.

Beleza, não? E agora? Qual é a sua?

terça-feira, 2 de abril de 2013

Aniversário besta

Há exatos 22 anos eu sofria o pior acidente de moto da minha vida motociclística.
Ia para a faculdade na pequena (mas valente) Yamaha Carona numa manhã ensolarada. Para quem não sabe, a Carona era uma versão empobrecida da RX80.
Numa larga rua - uma avenida sem canteiro central, na verdade, de mão única, passávamos por um ponto conhecido por ser concentração do pessoal que estudava na mesma faculdade que ali pedia carona. À minha frente ia um outro colega de faculdade (não fazíamos o mesmo curso, mas sabia que ele era de Osvaldo Cruz) numa CB 400. Simultaneamente, uma colega estendeu-lhe o braço pedindo carona e a traseira da minha moto deu uma balançada de leve. Ao olhar rapidamente para a roda não vi que o rapaz tinha parado por completo para dar carona. Erro meu: tirar os olhos da pista, além de trafegar muito à direita. Erro dele: não encostar completamente junto à calçada. Deixou a traseira da CB no meio da rua. Resultado: um puta batida de traseira na qual eu me dei muito mal. Fui de cara no chão (sem capacete). Machuquei o pé direito, a mão esquerda, trinquei a clavícula e levei dois pontos na sobrancelha esquerda. Depois de um dia inteiro em pronto-socorro e hospital comecei a mentalmente fazer o rescaldo. Minha moto detonada, a moto do japa também estragada (paguei o conserto, obviamente), a colega que pediu carona acabou se atrasando terrivelmente para a aula pois me acompanhou até o pronto-socorro. Até hoje não me lembro se consegui agradecer a ela adequadamente.
De uma tacada, várias lições aprendidas. Hoje sou um bocado chato com segurança e tenho razões para isso.