sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Leis x civilidade

Ao me dirigir para o trabalho esta manhã, presenciei uma cena que se repete todos os dias. Há um retorno na avenida L2, com um semáforo. Quando não há trânsito, os carros que usam o retorno não esperam o sinal abrir, seguem como se nada estivesse acontecendo. Brasília tem câmeras, muitas câmeras, mas não naquele ponto. Aquele retorno permite acesso a uma importante área central e é muito utilizado. Não é o único lugar em que esse tipo de coisa acontece, obviamente, mas é sintomático do que vemos país afora. Apesar das reclamações de "indústria da multa" que muitos motoristas adoram fazer, no nosso país, cujo senso de civilidade anda tão combalido - senão moribundo - multar motoristas desobedientes parece ser a única saída.
Fico profundamente irritado quando converso com pessoas que estiveram recentemente em países como Canadá, Estados Unidos ou qualquer outro país da Europa, e são só elogios à organização do trânsito, à educação dos motoristas e aí seguem numa ladainha sobre como o brasileiro é mal-educado, como nosso país não tem jeito mesmo. São as mesmas pessoas que fazem manobras no trânsito sem sinalizar, que estacionam em local proibido com a desculpa de "é rapidinho", que furam o sinal vermelho porque "não vem carro mesmo".
É absurdo que o óbvio tenha que ser escancarado: as leis existem, você é que não as cumpre. Cinto de segurança foi tornado obrigatório por razões de segurança, mas só pegou quando multas começaram a ser aplicadas. Uso do capacete por motociclistas, mesma coisa. Uso de cadeirinha para crianças, idem (apesar que ainda vejo muuuuita gente andando com crianças soltas no carro, o que para mim é criminoso). Cinto de segurança para o passageiro? Respeito à capacidade de passageiros?
O brasileiro parece não ter noção de que trânsito organizado e respeito às leis diz mais a respeito dos próprios motoristas do que das autoridades responsáveis pelo trânsito. É uma questão de civilidade: respeito às leis. Na Europa não é preciso ficar avisando que o desrespeito a uma nova lei acarretará multa. O cidadão já sabe disso. Há muita discussão antes da aprovação de uma nova e mais abrangente regra, por isso, quando ela é implantada, parte-se do princípio que o cidadão já está a par dela e cabe a ele cumpri-la. Simples assim. 
Enquanto não for instalada uma câmera naquele retorno, para desespero dos apressadinhos, a irregularidade continuará a acontecer.
Certos desrespeitos são questão de mau aprendizado mesmo: ligar a seta somente no momento da manobra, por exemplo. Muito comum no Brasil, muito motoristas acreditam que é para constar, para, no caso de uma batida, ele poder dizer que ligou a seta. Antecipar-se no trânsito evita dissabores. O pisca serve para avisar a outros motoristas de suas intenções. Mesmo que seja uma simples mudança de faixa. Muitos carros hoje tem essa função na alavanca do pisca. Basta encostar que o pisca é acionado 3 ou 4 vezes, e serve para mudanças de faixa. Mas tem que ser utilizado ANTES que o motorista inicie a manobra.  
Ultrapassagens pela direita. Enquanto pensava nisso de manhã, imaginei se a proibição dessa manobra não seria um resquício dos tempos em que a maioria dos carros não tinham retrovisor no lado direito. A regra diz que a manobra é proibida, exceto se o carro a ser ultrapassado estiver indicando conversão à esquerda. Como ninguém faz uso correto do pisca, uma regra atrapalha a outra, percebe? É, não é fácil.
Resumindo: não adianta você ficar reclamando do DETRAN, da auto-escola, das multas, dos pardais. Se a regra existe e você tem conhecimento dela, obedeça. É assim que se faz um trânsito civilizado, com civilidade.
Dirija seguro. 

-- xx --

Para lembrar uma cantilena de uma campanha de trânsito do passado:  
"o carro é de lata
Você é de carne
 O carro amassa
Você morre"

Meio exagerado, mas dá para entender o sentido.

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