Os jornais e telejornais do nosso Brasil varonil mostram, todo santo dia, imagens, notícias, gráficos, estatísticas e depoimentos sobre a violência do trânsito no país. Sobre a violência, sobre a desorganização e sobre como é fácil burlar leis já que a fiscalização é inexistente, no melhor dos casos. Nesse emaranhado, motos e motociclistas, vítimas em grande número, aparecem quase sempre como vilões. Nunca vi uma matéria que mostrasse a moto como uma solução viável. Jornalistas não especializados não perdem tempo em por a moto como veículo assassino, como causadora de problemas, etc. Recentemente, o Correio Braziliense, maior jornal do DF, trouxe uma série de reportagens sobre motocicletas. Em uma delas, usou dados de uma excelente pesquisa feita pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, devidamente editados, e torceu o resultado para mostrar as motos como culpadas por quase a metade dos acidentes/vítimas do trânsito. Só tem um porém, essa pesquisa indicou que motoristas e seus veículos são culpados pela outra quase metade dos acidentes/vítimas. E outra grande parcela da culpa coube às vias. Bem, verdade seja dita, há bons e maus motociclistas, assim como há bons e maus motoristas.
A falta de gentileza e de respeito mínimo às regras de trânsito, no entanto, atrapalham muito mais que qualquer outra coisa. A cabecinha de certas pessoas mereceria ser esmagada, tal a incapacidade de analisar as situações do dia-a-dia e tomar as decisões corretas. Aqui em Brasília, por exemplo, nas grandes avenidas, a praxe agora é "ultrapasse por onde der". Ninguém se dá ao trabalho de pedir passagem quando o veículo da frente está ali, onde não deveria, na pista da esquerda. Esse sujeito - e eu tive uma experiência dessas - acha que, porque ele trafega na velocidade máxima indicada por aquela via, ele não tem que dar passagem para ninguém. Força, assim, com sua ignorância, os outros motoristas a cometerem infrações, ultrapassando-o pela direita. Os que fazer isso ajudam a perpetuar o mau hábito e o ciclo vicioso começa. O que aconteceu comigo foi que, ao pedir passagem para um sujeito que trafegava a 80 km/h pela pista da esquerda com as duas pistas à direita livres, tive que desviar abruptamente porque o energúmeno simplesmente freou, irritado com meu pedido de passagem. Aliás, o simples ato de ligar o pisca indicando que vai virar à esquerda daria condições para a ultrapassagem pela direita de maneira legal, mas isso é outra coisa difícil de acontecer.
Falei lá em cima sobre a vilanização das motos no Brasil. Nós queremos ser de primeiro mundo, adoramos quando somos reconhecidos por qualquer coisa, mas em outros aspectos estamos em outro século e em outro planeta. Moto no Brasil é problema. Só para dar um exemplo de como as coisas devem ser feitas: no começo deste ano foram criadas 18.000 vagas de estacionamento para veículos de duas rodas em...Paris. E querem saber como eles conseguiram fazer isso? Eliminando 4.500 vagas para carros. A mensagem é clara: quer usar seu carro? Vai se virar para estacionar. Um carro ocupa o espaço de 4 motos, no trânsito. Estacionadas são cerca de seis. Estou falando de motos pequenas, scooters e afins, veículos de uso essencialmente urbano. Enquanto transporte individual, as vantagens são óbvias, sem falar na diminuição da poluição. Mas para que isso aconteça há que se mudar a maneira de tratar do assunto. Não é a obrigatoriedade do uso de um colete com air-bag que vai salvar vidas. Não senhor. Mesmo porque não há um único fabricante desse equipamento no Brasil, e que custa mais de R$ 1 mil. Tornar o colete obrigatório seria algo inédito no mundo. E isso não é positivo. O mais absurdo seria tornar obrigatório sem considerar antes que jaqueta, luvas e botas ainda não tem sua obrigatoriedade regulamentadas. Quer dizer então que eu coloco meu capacete, meu colete com air-bag (que vai disparar a cada tombo besta, custando cerca de R$ 160,00 por cada cânister de gás que terá de ser reposto) e beleza? Posso ir de camiseta e chinelo? Ou tênis? Shorts ou bermudas são suficientes, então? Perceberam o alcance da imbecilidade?
Ouvi recentemente uma entrevista, no rádio, com um especialista de um órgão de segurança viária, não me lembro qual. O assunto era o número de vítimas, sobretudo crianças, em acidentes de moto no nordeste. A explicação é que a moto substituiu o jegue nessas áreas e as famílias, assim, se aboletam todas nas motos e lá se vão. Sem capacete, sem equipamentos de segurança e em mais de dois passageiros por veículos. A solução brilhante, segundo o entrevistado, seria obrigar as fábricas a fabricarem motos para apenas um ocupante. Veja o absurdo dessa ideia. Vamos punir todo mundo que usa moto, porque a gente (governo) não sabe o que fazer. Que tal fiscalizar? Que tal multar? Aliás, que tal modificar totalmente a forma como a habilitação é concedida? Que tal responsabilizar a concessionária por entregar o veículo a uma pessoa não habilitada? Que tal parar de frescura e coibir as barbaridades que acontecem no trânsito todo santo dia? Não, é mais fácil restringir o uso. Essa solução, igualmente inédita no mundo, seria a coisa mais absurda já pensada. Ora, se as pessoas não respeitam o fato de a moto só comportar dois, porque diabos elas respeitariam a limitação de um ocupante? É no mínimo ingênuo pensar dessa forma. É a continuação das histórias que a gente ouve todo dia, de vereadores, deputados, senadores, pensando em leis envolvendo motocicletas sem ouvir as partes mais interessadas ou os especialistas da área. Há não muito tempo, em São Paulo, um imbecil qualquer lá queria restringir o tráfego de motos com duas pessoas, em horários comerciais, pois segundo o perolista, é nesses horários que os assaltos mais acontecem. Hã? Bandido nunca usou carro para cometer crimes, né? Então, se eu quero usar a moto e aproveitar e levar minha esposa ao trabalho, porque de carro não dá e porque o transporte público, responsabilidade dos governantes, é de péssima qualidade, não posso, porque quem usa a moto assim é bandido? Fantástico.
O que mais irrita quando vejo iniciativas desse tipo é parar no semáforo e ver que 90% dos carros à minha volta estão levando apenas uma pessoa. E eu, motociclista, é que sou o vilão?
Querem diminuir as vítimas no trânsito? Desonerem o setor de equipamentos para que o preço caia e mais pessoas tenham acesso a equipamentos de boa qualidade. Tornem o uso de jaqueta, luvas e botas obrigatório. Modifiquem a forma como a habilitação é obtida. Aliás, que tal reformular o sistema de habilitação como um todo? Primeira habilitação? Motos até 20cv por pelo menos dois anos. Novo exame e, caso aprovado, motos até 50cv por mais dois anos. Novo exame e aí sim, caso não tenha havido nenhuma ocorrência grave nesse tempo todo, liberação da potência. Não adianta limitar por cilindrada.
Educação de trânsito, fiscalização séria, conscientização, punição: 4 pilares da melhora do trânsito no Brasil.
A falta de gentileza e de respeito mínimo às regras de trânsito, no entanto, atrapalham muito mais que qualquer outra coisa. A cabecinha de certas pessoas mereceria ser esmagada, tal a incapacidade de analisar as situações do dia-a-dia e tomar as decisões corretas. Aqui em Brasília, por exemplo, nas grandes avenidas, a praxe agora é "ultrapasse por onde der". Ninguém se dá ao trabalho de pedir passagem quando o veículo da frente está ali, onde não deveria, na pista da esquerda. Esse sujeito - e eu tive uma experiência dessas - acha que, porque ele trafega na velocidade máxima indicada por aquela via, ele não tem que dar passagem para ninguém. Força, assim, com sua ignorância, os outros motoristas a cometerem infrações, ultrapassando-o pela direita. Os que fazer isso ajudam a perpetuar o mau hábito e o ciclo vicioso começa. O que aconteceu comigo foi que, ao pedir passagem para um sujeito que trafegava a 80 km/h pela pista da esquerda com as duas pistas à direita livres, tive que desviar abruptamente porque o energúmeno simplesmente freou, irritado com meu pedido de passagem. Aliás, o simples ato de ligar o pisca indicando que vai virar à esquerda daria condições para a ultrapassagem pela direita de maneira legal, mas isso é outra coisa difícil de acontecer.
Falei lá em cima sobre a vilanização das motos no Brasil. Nós queremos ser de primeiro mundo, adoramos quando somos reconhecidos por qualquer coisa, mas em outros aspectos estamos em outro século e em outro planeta. Moto no Brasil é problema. Só para dar um exemplo de como as coisas devem ser feitas: no começo deste ano foram criadas 18.000 vagas de estacionamento para veículos de duas rodas em...Paris. E querem saber como eles conseguiram fazer isso? Eliminando 4.500 vagas para carros. A mensagem é clara: quer usar seu carro? Vai se virar para estacionar. Um carro ocupa o espaço de 4 motos, no trânsito. Estacionadas são cerca de seis. Estou falando de motos pequenas, scooters e afins, veículos de uso essencialmente urbano. Enquanto transporte individual, as vantagens são óbvias, sem falar na diminuição da poluição. Mas para que isso aconteça há que se mudar a maneira de tratar do assunto. Não é a obrigatoriedade do uso de um colete com air-bag que vai salvar vidas. Não senhor. Mesmo porque não há um único fabricante desse equipamento no Brasil, e que custa mais de R$ 1 mil. Tornar o colete obrigatório seria algo inédito no mundo. E isso não é positivo. O mais absurdo seria tornar obrigatório sem considerar antes que jaqueta, luvas e botas ainda não tem sua obrigatoriedade regulamentadas. Quer dizer então que eu coloco meu capacete, meu colete com air-bag (que vai disparar a cada tombo besta, custando cerca de R$ 160,00 por cada cânister de gás que terá de ser reposto) e beleza? Posso ir de camiseta e chinelo? Ou tênis? Shorts ou bermudas são suficientes, então? Perceberam o alcance da imbecilidade?
Ouvi recentemente uma entrevista, no rádio, com um especialista de um órgão de segurança viária, não me lembro qual. O assunto era o número de vítimas, sobretudo crianças, em acidentes de moto no nordeste. A explicação é que a moto substituiu o jegue nessas áreas e as famílias, assim, se aboletam todas nas motos e lá se vão. Sem capacete, sem equipamentos de segurança e em mais de dois passageiros por veículos. A solução brilhante, segundo o entrevistado, seria obrigar as fábricas a fabricarem motos para apenas um ocupante. Veja o absurdo dessa ideia. Vamos punir todo mundo que usa moto, porque a gente (governo) não sabe o que fazer. Que tal fiscalizar? Que tal multar? Aliás, que tal modificar totalmente a forma como a habilitação é concedida? Que tal responsabilizar a concessionária por entregar o veículo a uma pessoa não habilitada? Que tal parar de frescura e coibir as barbaridades que acontecem no trânsito todo santo dia? Não, é mais fácil restringir o uso. Essa solução, igualmente inédita no mundo, seria a coisa mais absurda já pensada. Ora, se as pessoas não respeitam o fato de a moto só comportar dois, porque diabos elas respeitariam a limitação de um ocupante? É no mínimo ingênuo pensar dessa forma. É a continuação das histórias que a gente ouve todo dia, de vereadores, deputados, senadores, pensando em leis envolvendo motocicletas sem ouvir as partes mais interessadas ou os especialistas da área. Há não muito tempo, em São Paulo, um imbecil qualquer lá queria restringir o tráfego de motos com duas pessoas, em horários comerciais, pois segundo o perolista, é nesses horários que os assaltos mais acontecem. Hã? Bandido nunca usou carro para cometer crimes, né? Então, se eu quero usar a moto e aproveitar e levar minha esposa ao trabalho, porque de carro não dá e porque o transporte público, responsabilidade dos governantes, é de péssima qualidade, não posso, porque quem usa a moto assim é bandido? Fantástico.
O que mais irrita quando vejo iniciativas desse tipo é parar no semáforo e ver que 90% dos carros à minha volta estão levando apenas uma pessoa. E eu, motociclista, é que sou o vilão?
Querem diminuir as vítimas no trânsito? Desonerem o setor de equipamentos para que o preço caia e mais pessoas tenham acesso a equipamentos de boa qualidade. Tornem o uso de jaqueta, luvas e botas obrigatório. Modifiquem a forma como a habilitação é obtida. Aliás, que tal reformular o sistema de habilitação como um todo? Primeira habilitação? Motos até 20cv por pelo menos dois anos. Novo exame e, caso aprovado, motos até 50cv por mais dois anos. Novo exame e aí sim, caso não tenha havido nenhuma ocorrência grave nesse tempo todo, liberação da potência. Não adianta limitar por cilindrada.
Educação de trânsito, fiscalização séria, conscientização, punição: 4 pilares da melhora do trânsito no Brasil.
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